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As páginas em branco não me têm atormentado, porque deixei de ter a coragem necessária para as enfrentar; estão ali, à distância de dois cliques, esquecidas. O som irritante do teclado, abafado por Blue October ou a banda sonora de um filme qualquer, já não faz parte dos meus serões - para além das pontuais conversas na rede social que tomou conta das nossas vidas. Substitui o chá pelo café e isso tornou-se uma característica. Não leio "há mais de uma semana" fazem várias semanas e, mesmo assim, consigo adormecer sem procurar essa companhia. Não tenho sentido necessidade de estar sempre a fazer alguma coisa, como a Olivia que fui sentiu; entrar no quarto, depois de um dia cansativo (ou mesmo depois de um dia mais relaxado), sentar-me na cama e ficar a olhar pela janela, sem grande foco, é, agora, perfeitamente aceitável. Caramba!, até ficar a olhar para as paredes é aceitável. Estou diferente, sinto-o mais do que nunca. Ainda não o digeri como deve ser, nem tenciono fazê-lo tão cedo. Porque, por agora, é suficiente. Apercebi-me que consigo ser feliz quando não me concentro em nada em específico, quando não penso no próximo evento, no próximo mês ou no próximo verão e naquilo que tenciono ou não fazer deles, quando me entrego ao momento, à satisfação das vontades do agora, quando não penso em demasia, quando me deixo ir. Sabe bem deixar-me ir e assim vou.