#14
Foda-se, as saudades que tinha de escrever sem paninhos quentes.
Acho que nem imagina, que nem se apercebe, que nunca terá noção. Talvez não signifique o que, para mim, se apresenta como tão claro. Mas, se, inacreditavelmente, assim for...
Sim, o tempo ajuda. O tempo passa e vou vencendo as estações, os meses, as semanas, os dias e os diferentes momentos destes. Tinham razão, sobrevivi. Estou aqui - voltei a estudar, a rir com vontade, a conviver com outras pessoas, a fazer refeições decentes e ele deixou de me aparecer tão frequentemente em sonhos. Sobrevivi... O que não significa que esteja a viver. Tudo se torna um bocadinho impossível quando ainda procuro o cheiro, o abraço e a voz para me afagarem ao final do dia.
Acordo a arfar, desorientada. Sinto um aperto no estômago e um nó na garganta. As lágrimas inundam-me o rosto, acompanhadas por gemidos que doem no peito. O telemóvel começa a tocar, a meu lado. O nome aparece desfocado - as lágrimas toldam-me a visão. Finjo não ouvir, viro-me para o outro lado e mergulho, de vez, no que dói, no choro e no sonho que ainda não me deixou.